mercado de santarém

Santarém, a Capital do Gótico em Portugal

SantarémSantarém é considerada por muitos como sendo a capital do gótico em Portugal, embora existam outras cidades portuguesas igualmente candidatas a este título. Apesar disso, Santarém é uma cidade com muito para ver e muito próxima de Lisboa, mas longe do rebuliço dos turistas que costumam encher a capital portuguesa, sendo por isso uma boa opção para quem procura ver outras coisas para além dos circuitos turísticos mais tradicionais.

Santarém é uma cidade antiga, tendo sido conquistada aos Mouros por Dom Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. O período de domínio muçulmano terminou a 15 de Março de 1147 com a conquista do castelo pelo rei português.

Segundo as crónicas da época, o rei e um pequeno exército de cerca de 250 dos seus melhores cavaleiros conseguiram tomar o castelo, depois de um punhado de 25 homens ter escalado os muros, durante a noite de 14 para 15 de Março, e aberto os portões. Os Mouros acordaram com os gritos das sentinelas e precipitaram-se para as ruas, oferecendo renhida resistência aos assaltantes, mas acabaram por ser derrotados e sofrer grandes perdas. Na manhã do dia 15, Santarém passou a fazer parte do recém-formado reino de Portugal.

A heróica história da conquista de Santarém é contada numa crónica medieval intitulada De expugnatione Scalabis, que é igualmente um hino à bravura e poder do primeiro rei português. Do ponto de vista militar, a conquista de Santarém foi crucial para a conquista de Lisboa, nesse mesmo ano, e na afirmação do reino de Portugal.

O sítio do antigo castelo mouro é agora um bonito jardim conhecido por Portas do Sol, onde se ergue uma estátua do nosso primeiro rei e de onde se disfruta uma vista espectacular sobre o Tejo. Do antigo castelo subsistem ainda algumas muralhas e torres.

Segundo os vestígios arqueológicos, a ocupação humana na região de Santarém remonta à época pré-histórica, a que se seguiram os Lusitanos, depois os Fenícios, Gregos, Romanos, Alanos, Vândalos, Visigodos, Mouros e, finalmente, os Portugueses.

mercado de santarémVárias lendas rodeiam a fundação e o nome da cidade de Santarém, a mais antiga tem origem em Abidis, fruto dos amores de Ulisses e Calipso. Segundo esse mito, Ulisses aportou à foz do Tejo em 1215 a.C. e ali descansou antes de regressar a Ítaca. Foi então que conheceu Calipso, filha de Gárgoris, rei dos Cunetas e príncipe da Lusitânia, e desses amores nasceu Abidis. Furioso, Gárgoris perseguiu Ulisses, que fugiu. Quanto ao neto, Gárgoris deitou-o ao rio dentro de um cesto. Levado pela corrente, o cesto foi parar à praia de Santarém, onde uma corça o encontrou e amamentou Abidis. Aos vinte anos de idade, Abidis foi descoberto pela mãe, Calipso. O rei Gárgoris, impressionado pela extraordinária odisseia do neto, reconheceu-o como seu sucessor e legítimo herdeiro do trono. Em homenagem ao lugar onde tinha passado tantos anos da sua vida, Abidis fundou ali uma cidade, a que deu o nome de Esca-Abidis (o manjar de Abidis) e a que os Romanos chamaram mais tarde Scalabis. É do nome romano de Santarém que deriva o dos seus habitantes – escalabitanos.

Quanto ao actual nome da cidade, tem origem na lenda de Santa Iria (ou Irene). Santa Iria era uma jovem virgem de origem visigótica que foi violada e martirizada em Tomar, depois atirada ao rio Nabão. Algum tempo depois, o seu corpo, completamente preservado, foi encontrado nas areias do Tejo, junto a Santarém. Em sua honra, o nome romano Scalabis da cidade foi mudado para Sancta Irene, tendo depois evoluído para ”Santarém”.

Os Romanos aportaram à cidade em 138 a.C. e Scalabis tornou-se o principal entreposto comercial do médio Tejo e um dos mais importantes centros administrativos da província da Lusitânia.

Depois do período de dominação visigótica, Santarém foi tomada pelos Mouros no século VIII e tornou-se um importante centro cultural, berço de personalidades como o poeta Ibn Sara e o poeta e historiador Ibn Bassam, que ficou célebre pela sua antologia “Dhakhira fî mahâsin ahl al-Gazira” (Tesouro dos méritos dos povos da Península Ibérica), uma das mais importantes fontes de informação histórico-cultural e literária do Al-Andalus.

Com a reconquista cristã por D. Afonso Henriques, Santarém foi palco de inúmeras Cortes e uma das cidades mais importantes do Portugal medieval, como o atestam os seus numerosos mosteiros e os restos do palácio real sobre o qual foi construída a catedral.

Santarém foi lugar apreciado dos reis portugueses, em especial do rei Dom Fernando, que quis ser sepultado no Convento de São Francisco (actualmente, o seu túmulo está no Museu do Carmo, em Lisboa). A cidade está igualmente ligada ao período de expansão marítima portuguesa, nos séculos XV e XVI, através de algumas personalidades dessa época, como o historiador Fernão Lopes de Castanheda, autor da “História da descoberta e conquista da Índia”, um documento cheio de valiosa informação geográfica e etnológica, que foi traduzido e divulgado por toda a Europa. Santarém foi também a cidade-berço de Pedro Álvares Cabral, o grande navegador português que descobriu a Terra de Vera-Cruz, primeiro nome dado ao Brasil, em 1500; este grande navegador português está sepultado na Igreja da Graça.

santaremDevido a alguns cataclismos naturais, como o grande Terramoto de 1755, à acção de pilhagem dos soldados franceses durante as Invasões Napoleónicas a Portugal nos princípios do século XIX, e à negligência das autoridades portuguesas, Santarém entrou em decadência e perdeu muitos dos seus monumentos. Já Almeida Garrett referia essa decadência no seu romance “Viagens na Minha Terra”.

De qualquer forma, apesar de ter perdido muitos dos monumentos góticos que lhe granjearam o cognome de “Capital do Gótico em Portugal”, Santarém é uma cidade digna de visita que apresenta também belos exemplos de arte manuelina, renascentista e barroca.

Para terminar resta-nos referir a gastronomia local, dominada pelos sabores do rio e da lezíria ribatejana, bem como pelos vinhos regionais que nada ficam a dever a outros mais conhecidos.

O que está à espera para ir até Santarém, a capital do gótico?

Um comentário

  1. Rocha Valente Mikáá
    30 de Abril de 2016

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