Se há cidade que vale a pena visitar em qualquer época do ano, essa cidade é o Porto. A imagem dos telhados, do Douro e das sua amáveis gentes é razão mais do que suficiente para arranjar um pretexto para visitar o Porto. Perante a imagem de postal que temos pela frente, vem-nos sempre à mente esta cidade sempre agradável de visitar, o Porto. E porquê? Por isto:
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Pela luz
Não podemos pensar numa razão melhor para fugir para o Porto. O amarelo do sol corre ao longo do leito do rio Douro desde o nascer do sol até ao pôr-do-sol, desenhando uma trilha de leste a oeste que faz as águas cintilar durante todo o dia. A mistura de ouro, blues e laranjas, como se fosse escolhida de propósito por um artista boémio, é única nesta parte do planeta.
Seja na margem norte do Douro, na animada e agitada Ribeira, com praças abertas ao rio, ou na margem sul mais descontraída, onde começa Vila Nova de Gaia e as suas colinas pontilhadas de adegas; qualquer orientação é boa nas margens do Douro.
Se é o seu primeiro dia aqui, relaxe e esqueça a pressão para tirar a melhor fotografia. Basta desfrutar da mudança de cores à medida que a tarde avança, sentar-se na Praça da Ribeira, concentrar-se nas enormes bolhas de sabão com que as crianças brincam, e ver a luz do Porto reflectida na água e na pedra.
Pelo seu passado
Sabe aquele sentimento, quando se caminha por um lugar com história, de que o que lá aconteceu deixou a sua marca na atmosfera, nas paredes, no ar…?
Estamos a falar da segurança de estar onde muitos outros estiveram e onde a história fala por si.
É o que se sente no Porto. E não é apenas devido à personalidade da sua arquitectura ou à irregularidade da sua disposição. É algo que se nota, uma impressão que a experiência esculpiu no ar e a tornou densa e expressiva.
Desde o século I a.C. que o Porto tem sido um enclave desejado pelos romanos, germânicos, visigodos, muçulmanos… diferentes civilizações têm valorizado a sua atractividade, e graças a isso tem acumulado uma riqueza cultural única. Não é por nada que o seu centro histórico é Património Mundial da Unesco.
Pelo seu renascimento
Não estamos a referir-nos ao movimento artístico, mas sim ao desejo do Porto de se renovar e de se dar a si próprio um facelift, sem perder o seu carácter pitoresco.
A cidade mostra o respeito que tem pelos seus visitantes, reabilitando zonas como a Rua das Flores e a Ribeira, que durante anos foi uma zona perigosa e suja. Graças a iniciativas como o Porto Vivo, o plano de rejuvenescimento lançado pela Câmara Municipal, o Porto é uma nova cidade, com a alma velha que sempre teve.
Pelos azulejos
Os edifícios históricos do Porto são um verdadeiro tributo à arte da cerâmica. Vêm em muitas cores, sendo as mais comuns o azul e o branco, mas todas com aquela naturalidade especial das peças feitas à mão, quando as máquinas ainda não tinham substituído a boa arte artesanal.
O costume de cobrir as fachadas com eles remonta ao reinado de Manuel I, que os trouxe de Sevilha no século XV. Para ver os mais bem conservados, e os que contam episódios da história ou da religião, visite o claustro gótico da Sé do Porto e a estação de comboios de São Bento, cujo vestíbulo está coberto com cerca de 20.000 azulejos.
Ou simplesmente passear pela cidade velha e prestar atenção a qualquer uma das casas. Não se deixe enganar pela sua decadência: o que pode parecer velho e abandonado revela detalhes valiosos se levar o seu tempo.
Por fazer subir os níveis de açúcar no sangue
Os portugueses sabem apreciar um bom doce quando o têm à sua frente (e quando o provam). Não pense que não há vida para além dos pasteis de nata. Felizmente ou infelizmente, há muito mais pastelaria disponível para qualquer pessoa que não conte calorias.
Não perca a Confeitaria do Bolhão: os locais mais ricos costumavam tomar o pequeno-almoço aqui, e não é de admirar.
Também a Padeirinha Doce, cuja especialidade é o bolo do rei, o nosso próprio bolo do rei!
Bolos de farinha de arroz, queijadas de Sintra, pão de ló, tortas de Azeitão, merengues de todos os tipos e cores, bolos de chocolate (até salame de chocolate), e o que mais nos chama a atenção: baba de camelo. Avisamo-lo: sabem melhor do que soam!
Por molhar os pés no Douro
Como em outros rios importantes em todo o mundo, no Douro existe também a tradição de saltar de uma ponte – neste caso, a ponte Luis I – para as águas que correm em direcção ao Atlântico.
Talvez a ideia de mergulhar de cabeça de uma ponte rodeada de turistas a tirar fotografias suas não soe romântico, mas pode sempre mergulhar os pés no Douro em qualquer dos pontos de acesso ao longo da margem do rio.
A melhor altura é ao pôr-do-sol num dia de Verão, quando as águas tiveram tempo para aquecer e parecerem douradas e calmas. Mas tenha cuidado porque a corrente é forte e não terá tempo de tirar uma fotografia sem acabar na foz do rio num piscar de olhos.
Ainda mais especial é a noite de São João (23 a 2 de Junho), quando milhares de pessoas atravessam a ponte e fazem a peregrinação até à Foz do Douro, na foz do rio, onde se banham ao amanhecer.
Por ver acabar o Douro
Poderíamos dizer que é aqui que os ricos portugueses passam os seus verões, mas mesmo que isso fosse verdade, não lhe faria justiça. Foz: é aqui que o Douro se encontra com o Oceano Atlântico, um antigo porto de pesca com praias espectaculares como a Praia do Molhe e onde o mar permanece refrescante durante todo o ano (cuidado, junkies mediterrânicos!).
Tome sol ou beba uma cerveja no passeio da Avenida do Brasil ou, porque não, faça amizade com um local que o convida para uma festa na sua villa do século XIX. Claro que, se teve recentemente o coração partido, fique longe do farol de Faro de São Miguel; é, no mínimo, esmagador.
Por trocar o bacalhau pelo atum
O indiscutível rei dos peixes em Portugal foi sempre o bacalhau. E não lhe pretendemos retirar o trono, mas os filetes de atum da Adega São Nicolau merecem bem estas linhas.
Um produto fresco, tratado com amor, que derrete na boca… e tudo no terraço deste restaurante localizado na zona da Ribeira, numa das suas ruas íngremes e estreitas. Não se surpreenda se vir alguns visitantes pacientes sentados numa escadaria de pedra enquanto bebem um copo de vinho: vale a pena esperar. Os mesmos proprietários são proprietários da Taberna dos Mercadores, outro local de visita obrigatória para a boa comida portuguesa.
Pelas igrejas que não são apenas para os fiéis
É daquelas pessoas que não gosta de visitar templos religiosos quando viaja? Está cansado de uma visita a qualquer cidade europeia que se transforme numa peregrinação? Esqueça tudo isso! As igrejas do Porto são muito mais do que locais de meditação e religião. Não só devido ao seu interior, mas também devido à sua localização.
Talvez a mais famosa seja a Igreja dos Clérigos e a sua torre, no topo de uma das colinas centrais.
Suba os seus 225 degraus, que após a subida da cidade parecerão não ser uma façanha, e desfrute de uma vista panorâmica que é mais do que uma mera experiência religiosa.
A catedral da Sé do Porto também coroa uma das colinas, e combina estilos românicos, góticos e barrocos de arquitectura.
E na Igreja do Carmo, um dos mais belos templos da cidade, os azulejos têm vindo a brilhar desde 1910.
Porque há também parques
Sim, o Porto não é apenas feito de paralelepípedos, varandas e telhas. Quando as suas pernas estiverem já canadas, não tema; há muitas opções para relaxar e apreciar o verde. O Parque de Serralves está um pouco fora do centro, mas vai adorá-lo, especialmente se for também um amante de arte.
É um parque de esculturas que acompanha um belo museu contemporâneo desenhado por Siza Vieira, e cobre 18 hectares onde se podem ver até ovelhas, vacas e cavalos.
Se não lhe apetecer ir tão longe, o Jardim da Cordoaria, ao lado de um dos edifícios da Universidade do Porto, também o isolará da azáfama da cidade.
Dali até ao Museu de Fotografia, na antiga prisão do Porto, é um passo de distância, altamente recomendado!
Porque é bom passear na rua
A ideia de vaguear pelas ruas e de se perder faz todo o sentido no Porto. Passe algumas horas a subir e a descer colinas sem saber realmente para onde vai. Esqueça os nomes e coordenadas das ruas. Ficará surpreendido com o poder de orientação que pensava não ter.
Quando menos esperar, chegará a um ponto alto da cidade e, olhando para o Douro, saberá imediatamente onde se encontra. Ouvir o som dos seus passos nos becos, o som das vozes em ebulição dos seus vizinhos nos pátios interiores, o som das crianças a brincar numa sala com vista para uma das varandas?
E, acima de tudo, cruzar-se com os locais, comprar pão onde eles o fazem, encontrar lojas de artesanato que não estavam à procura?
Comece na zona da Sé e encontre os vestígios mais medievais e os becos menos fotografados, que mostram que a decadência pode ser bela. Não deixe que as escadas íngremes o assustem. No fim destes troços irá encontrar os cantos mais autênticos.
Porque queremos uma varanda portuense
Os locais partilham um hábito que faz com que a cidade mantenha esse ar tradicional e próximo, quase como se estivéssemos na aldeia dos nossos avós. É para se inclinar sobre a varanda.
Talvez devido às altas temperaturas no Verão, talvez devido à humidade que se acumula nas casas no Inverno… o facto é que não há nenhum edifício cujas varandas não mostrem algumas cabeças. Alguns a falar ao telefone, outros a pendurar a roupa branca, outros apenas a olhar…
A observação das varandas é também um exercício muito curioso no estudo sociológico. Dependendo do bairro em que se muda, verá que as pessoas que olham para fora são jovens hipsters a ler livros amarelados na Cedofeita, senhoras que conhecem todos os vizinhos desde antes e que agora vivem com turistas em Miragaia ou velhos pescadores que olham para o Douro com saudade, no bairro da Ribeira.
Para muito mais do que livros
Não é preciso ser um grande leitor para ser obrigado a visitar a livraria Lello. Tudo o que precisa de ser é um amante de edifícios deslumbrantes.
Porque é isso que a carpintaria, as prateleiras, as escadarias e os tectos da Livraria Lello fazem. Considerada uma das mais belas livrarias do mundo, é um templo de livros e beleza. Irá reconhecê-lo pela fila de visitantes à porta, e concordamos que seria muito mais agradável com paz, sossego e poucas pessoas.
Mas isso não diminui a atração do estabelecimento, que foi aberto em 1906 e serviu de inspiração para J.K. Rowling tal como ela imaginava o universo Harry Potter. O que mais amamos? As pinturas sobre a fachada neo-gótica e os pequenos bustos de escritores portugueses como Queirós, Castelo Branco e Teófilo Braga que enfeitam as prateleiras.
Pelo caminho
Todos nos cansamos das longas filas de espera nos aeroportos, dos controlos de bagagem e de termos que tirar os sapatos. Para chegar ao Porto, nada mais fácil do que apanhar a estrada. Tudo depende de onde se está a viajar, claro, mas também é uma desculpa para conhecer um pouco mais das paisagens desta região de Portugal. Mais uns dias de férias que valem a pena.
Pelas lojas que ainda não vimos
No Porto existem lojas que não conhecem a produção em massa, cujos proprietários podem não saber mais do que as duas palavras obrigatórias em inglês, e que provavelmente não lhe darão um vale-presente com a sua compra.
Era o que queríamos encontrar, certo? Adoramos mercearias, que poderíamos comparar com as mercearias tradicionais onde as mesmas pessoas vão às compras à procura de produtos locais.
Paragem obrigatória no Comer e Chorar por Mais, no Mercado do Bolhão, fundado em 1912 e do qual se tem de tirar pelo menos um paté de sardinha ou, na sua falta, sardinhas enlatadas.
Experimente também a salsicha de Montesinhos, e visite a Casa Natal para o bacalhau salgado. A zona da Rua de Miguel Bombarda é conhecida como o bloco de desenho, com lugares artísticos e únicos como Cru e Mercado 48.
Porque até os telhados são bonitos
A topografia da cidade é especial para desfrutar de vistas panorâmicas impressionantes.
A amálgama de edifícios ligados uns aos outros, com quase nenhum espaço entre as suas fachadas, oferece um mar de telhas de qualquer ponto de vista em que nos encontramos: um lote de telhados de ocre e laranja sobrevoados por gaivotas, com o Douro a servir de horizonte. Experimente do ponto de vista da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Vitória, no final da R. de São Bento da Vitória. Dá vontade de se tornar um gato.
Porque os portuenses são amistosos
Sem mais nem menos. Porque adoramos viajar, conhecer estilos de vida místicos, culturas milenares, tradições gastronómicas que incluem insectos exóticos… mas, por vezes, também gostamos de nos sentir um pouco em casa onde quer que estejamos.
E é assim que nos sentimos no Porto pela sua naturalidade, a sua falta de pretensão, o seu povo barulhento, o seu cheiro a peixe, a forma como não gosta de estar à sombra de Lisboa. O Porto, e aqueles que fazem dele o que é, acolhe os visitantes sem demasiados elogios, mas com todo o calor que só nos países desta parte do mundo sabemos mostrar.
Pela francesinhas à moda do Porto
O Porto tem também uma rica tradição de pratos saborosos. Se é daqueles que adotou o “para onde vai, faça o que quiser”, então não pode perder na sua agenda de experiências gastronómicas as francesinhas.
É um prato primo do monsieur croque francês que foi trazido para Portugal por emigrantes em França durante os anos 50 e 60, embora alguns digam que foi um cozinheiro português que, enquanto viajava em França, descobriu as sandes francesas e decidiu recriá-las no seu regresso ao Porto.
“E o que é têm de especial?”, pode perguntar. Eis a receita: pão fatiado, lombo de porco ou hambúrguer de vaca, salsichas, presunto, queijo e batatas fritas. Pedimos-lhe que prove, mas também que não coma isto todos os dias !
(Não, não nos esquecemos do Vinho do Porto)
Está bem, pode parecer óbvio e, talvez, seja. Mas não podíamos deixar de fora as magníficas caves do vinho do Porto. E não só para provar vinhos, mas também para admirar a paisagem que os edifícios retangulares e achatados formam nas colinas.
Telhados em que os nomes das adegas aparecem em letras brancas legíveis a quilómetros de distância, fachadas caiadas caiadas de branco em que essas mesmas letras se tornam pretas, janelas e arcos com vista para a margem do rio… é quase como uma exposição, e cabe-lhe a si escolher qual dos expositores vai visitar. Nós não esquecemos as vistas do restaurante Vinum do século XIX da Graham’s, nem do Porto Graham’s 30 Year’s Old.
Porque é Portugal
Sem mais nem menos. Porque todos gostamos de Portugal e não conhecemos ninguém que não goste do nosso país, do nosso clima, da gastronomia e das suas gentes.