O parque natural da Peneda-Gerês constitui uma das maiores áreas preservadas em Portugal, estendendo-se por uma área de mais de 70.000 hectares e 22 freguesias. É também reconhecido pela UNESCO como uma Reserva mundial da Biosfera, incluindo espécies únicas de fauna e flora e que fazem deste local um paraíso natural!
Mas nem só de beleza e paisagens vive este parque, porque uma das suas maiores riquezas reside nas tradições e costumes das gentes que habitam a área do parque e que chegam até nós, em muitos locais, inalteradas desde que começaram há centenas de anos. Assim, destacamos acima de tudo a cordialidade de todos os que nos receberam e a simpatia sempre presente em qualquer conversa.
Existem vários percursos possíveis para explorar o parque e a área envolvente, mas nesta primeira parte vamos focar-nos nas zonas mais centrais do parque Peneda-Gerês. Para explorar as zonas mais centrais do Parque e que referimos neste post, ficámos no parque de campismo de Cerdeira, na aldeia de campo do Gerês.
Mata da Albergaria
A mata da albergaria é possivelmente o banco de flora mais importante da reserva natural! Aqui vão encontrar uma floresta sobretudo de carvalhos, com bastantes espécies rasteiras e musgo cobrindo a terra, criando um ambiente único e que nos teletransporta para uma daquelas florestas que estamos mais habituados a ver nos filmes do que em Portugal.
Este bosque é altamente vigiado e controlado e portanto existem algumas regras a seguir para visitar esta zona do parque: só podem circular no máximo a 40 Km/h (Fizemos o percurso de carro, mas também pode ser feito a pé, utilizando os trilhos definidos), não é possível estacionar o carro, o que pode dificultar se quiserem tirar fotos, e a visita está sujeita ao pagamento de uma taxa de 1,50€.
Todas estas limitações são muito importantes para assegurar a conservação do ecossistema e não impedem que se desfrute desta verdadeira gema natural!
Trilho da Silha dos Ursos
O percurso marcado da Silha do Ursos foi uma das grandes surpresas que tivemos na nossa visita ao Gerês. Com a extensão de 5km e um trajeto praticamente sempre em subida acentuada, este trilho colocou as nossas capacidades físicas à prova! A parte inicial do percurso foi feita de carro, no entanto, o mau estado da estrada impossibilita que se continue de automóvel e portanto os últimos 3km do percurso são feitos totalmente a pé.
Conseguimos desfrutar de uma natureza envolvente e se tiverem sorte como nós tivemos, vão conseguir ver várias espécies de animais que ocasionalmente se atravessam no caminho. A recompensa a todo o esforço surge no fim do trilho, onde a uma altitude de 1100m vão ter uma vista privilegiada de todo o parque natural, com o rio Homem no fundo do vale. Uma vista fantástica como podem ver na foto abaixo!
Fazer o trajeto M531 – M533
O percurso formado pela conjugação das estradas municipais 531 e 533 oferece uma experiência única e autêntica pelo Gerês profundo. Ficámos apaixonados pelas numerosas aldeias em pedra, onde felizmente ainda é possível encontrar gente, e onde todos foram sempre tão simpáticos connosco. Falámos e aprendemos, sobre história, tradições, modos de vida e memórias. Destacamos neste trajeto a aldeia de lugar de Brufe, situada num dos pontos mais altos do trajeto e onde há muito para explorar! Se conseguirem, corram as pequenas ruas de pedra por entre as casas sempre tradicionais, percam-se por entre os espigueiros e encontrem quando chegarem ao fim do canalzinho de água e tiverem a vossa frente uma vista fantástica!
No final do trajeto, já a chegar à Vila do Gerês, e por entre curvas e contra-curvas, à medida que se vai descendo, encontramos dezenas de pequenas quedas de água, com água límpida e fresca! Aproveitem para encher a garrafa e provar esta água com sabor a montanha e natureza!
Cascata do Arado
Perto da aldeia de Ermida encontra-se uma das cascatas mais famosas do Parque Peneda-Gerês, a cascata do Arado. A uma altitude de 900m, o acesso de automóvel foi relativamente fácil e a sinalização foi constante ao longo do caminho. Depois de deixarmos o carro estacionado junto a uma ponte sobre o rio Arado, o percurso é feito a pé e torna-se extremamente acidentado. É possível ver a cascata durante todo o trajeto e também as cabras selvagens que se alimentam e passeiam nas encostas que ladeiam o curso de água.
Uma vez que não tínhamos o equipamento adequado optámos por não arriscar ir à base da queda de água, mas mesmo assim, a vista que nos foi oferecida foi verdadeiramente deslumbrante e reforça o estado de natureza selvagem que podemos encontrar no parque.
Para além dos locais que destacámos, sugerimos também que visitem as ruínas de Pitões das Júnias em Montalegre, o santuário de São Pedra da porta Aberta e o miradouro da Pedra Bela!
O parque natural Peneda-Gerês para além da sua área demarcada e definida, acaba frequentemente por agregar outros locais, cidades e monumentos naturais que se localizam a alguns kms das fronteiras do parque. Foram também áreas que não quisemos deixar de visitar e que apresentam uma riqueza gastronómica e patrimonial enorme!
Depois de termos destacado alguns dos principais locais naturais a visitar na área preservada (Podem ver a parte 1 aqui), quisemos também contar a história da nossa segunda viagem a esta zona magnífica, desta vez feita na Primavera mas com condições meteorológicas que mais facilmente associamos ao Inverno. Ainda assim, aproveitámos ao máximo os 2 dias que aqui passámos!
Ficámos alojados na casa de turismo rural D’Auleira, um local fantástico, onde conseguimos relaxar verdadeiramente e rodeados de natureza. Destacamos também a simpatia dos nosso anfitriões e o conforto do quarto. Passando então ao nosso percurso:
Ponte da Barca
Ponte da barca é uma vila minhota que transpira natureza e história! Relativamente perto do parque da Peneda-Gerês, esta vila de 2300 habitantes fundada em 1125 tem muito para visitar e conhecer. As quedas de água no centro da vila oferecem uma paisagem do rio lima digna de um postal, com vários edifícios históricos dispersos junto ao rio e criando um ambiente único!
Também a nível gastronómico é aqui que se podem provar algumas das especialidades minhotas mais conhecidas, como a posta de vitela minhota ou o pudim abade de Priscos. Aconselhamos o restaurante “O Moinho“, à entrada da vila e com uma relação qualidade-preço fantástica!
Castro Laboreiro
Depois de Ponte da barca, seguimos diretamente em direção a Castro Laboreiro! Ficámos verdadeiramente fascinados com esta pequena vila encaixada na serra imponente.
Visitámos a vila num dia em que estavam -2ºC e nesta que é uma das vilas mais altas do país tudo aqui é sinónimo da resiliência das gentes e tudo transpira história e tradição. As casas em pedra dispersas pelos montes, intercaladas por riachos, moinhos e pequenas capelas cria uma paisagem única que não tem semelhança com nada que tenhamos visto.
Não queremos deixar de realçar mais uma vez a simpatia de todos com quem falámos neste local e destacar também a hospitalidade com que fomos recebidos!
Santuário de Nossa Senhora da Peneda
Este é dum daqueles locais que frequentemente associamos a uma qualquer história mística do passado, mas que impressiona pela marca histórica e religiosa que deixa nos seus visitantes. Encaixado na montanha está o santuário, com uma escadaria imponente e longa, rodeada de pequenas casas que albergam imagens religiosas onde são pagas promessas a cada um dos santos. O edifício bem conservado e em pedra que se destaca é ladeado de umas escadas que nos levam a um recinto amplo completamente verde com uma vista fantástica para os montes!
Independentemente de serem ou não pessoas religiosas, não deixem de visitar este local que retém também muito daquilo que é a vida na região e as tradições religiosas que permaneceram até aos dias de hoje!
Soajo / Lindoso
Estes dois locais tão próximos são um dos pontos altos deste pequeno roteiro! É aqui que se encontra uma das maiores concentrações de espigueiros, construções geralmente em pedra e características do norte de Portugal e da Galiza, e que servem para proteger as culturas de milho e trigo da humidade, das chuvas e dos animais.
No castelo do Lindoso, muitos destes espigueiros estão dispersos em volta do castelo, fazendo deste local um dos mais representativos das tradições portuguesas e frequentemente mostrado nas campanhas da agência Turismo de Portugal. Na aldeia do Soajo, encontrarão os espigueiros dispersos sobre uma laje granítica e tudo isto faz com este local seja também obrigatório em qualquer roteiro da região!
Do Lindoso regressámos a Ponte da Barca pelo parque natural, sempre rodeados de paisagens espetaculares e de natureza no seu estado mais puro! Pelo caminho passámos em Ponte de Lima, que é também um local a não perder, pela sua história e beleza patrimonial. Não deixem de visitar esta zona no limite do parque porque é aqui que se encontram muitas das principais referências históricas, gastronómicas e etnográficas do nosso país.