Avisamos desde já que este é um tema polémico que até colocou a comunidade de fotógrafos numa batalha em volta do Instagram. Por um lado estão as pessoas que querem ter liberdade para fazer o que quiserem, neste caso para georeferenciar todas as fotos que fazem, estejam onde estiverem. Por outro lado, estão os fotógrafos que acreditam que o Instagram tem demasiado poder na sociedade actual e que é preciso ter alguma responsabilidade e bom senso na forma como publicamos fotos dos lugares que visitamos.
A situação desde há algum tempo que é a seguinte: No passado havia determinados lugares que eram local de passagem habitual e quase obrigatória para os turistas. Esses lugares são bem conhecidos e estão preparados para receber milhares de pessoas diariamente e durante todo o ano. São aqueles locais típicos recomendados pelas agências de viagens, pelas revistas, pelos blogues, etc. De uma forma geral, são raras as vezes em que as administrações centrais, regionais ou locais se queixam disso ou referem as consequências de haver muita gente a visitar estes lugares. E não se queixam porque estão preparados para isso.
À margem destes sítios é habitual todos os países terem também locais maravilhosos e desconhecidos que por um motivo ou outro não estão incluídos nos roteiros turísticos tradicionais. De uma forma geral são lugares cheios de encanto, fantásticos e inesquecíveis, que apenas são partilhados com os amigos e que se vão mantendo escondidos da generalidade das pessoas. Estes lugares não costumam ter muitas visitas e quando há demasiadas pessoas a conhecê-lo começam a ficar afectados e estragados com tantos visitantes.
E é precisamente isso que está a acontecer devido ao Instagram. São aqueles lugares do mundo tão escondidos, tão inalcançáveis e tão particularmente apelativos que antes apenas eram visitados por 5-10 pessoas por dia, mas que agora são visitados por 100 ou 200 pessoas no mesmo período de tempo. E porquê? Porque agora é fácil e simples conhecer a existência destes lugares devido à georeferenciação no Instagram. Quando uma pessoa encontra o lugar, tira uma foto com uma geoetiqueta, a qual é partilhada com milhares de pessoas… e abre-se uma gama de possibilidades! Se depois outra pessoa fizer o mesmo e por aí além, esses lugares desconhecidos e pouco preparados para receber enormes quantidades de visitantes acabam por se transformar em destinos cheios de turistas, com todas as consequências que daí advêm.
É por essa razão que já há muitas organizações e autoridades que começaram a pedir aos viajantes para quando visitarem estes lugares desconhecidos e sensíveis não marquem as suas fotos para evitar aumentar o risco, a deterioração, e que no final podem acabar por perder todo o seu encanto. Estes pedidos estão já a ser feitos um pouco por todo o mundo, por parte de governos que estão a ficar preocupados com a erosão de passar dos 10 visitantes diários para 150 ou mais. Não é algo que muitos lugares totalmente naturais consigam suportar porque não estão preparados para isso, nem foram concebidos com esse objectivo.
Em outros casos o risco surge de uma forma diferente. Vejamos o caso de algumas zonas onde há animais selvagens que estão protegidos por lei, como por exemplo os rinocerontes. Transformou-se em algo normal haver pessoas que tiram fotos de rinocerontes e que partilham a geolocalização do lugar onde o fizeram. Mas as autoridades advertem que ao fazê-lo estão a informar os caçadores furtivos sobre a localização exacta dos animais e que estes irão ser caçados e desmembrados para serem vendidas partes do seu corpo no mercado negro. Ou seja, ao fazê-lo estamos a facilitar o trabalho a pessoas que caçam animais por dinheiro, situação que certamente nenhum de nós aprovaria em nenhuma circunstância.
Não trata de tirar ou não fotos, mas sim de o fazer de forma responsável. Há quem comente de outro lado da barricada da discussão que sem esses geoposicionamentos, provavelmente ninguém conseguiria encontrar esses lugares, nem conhecê-los. É provável que assim seja, mas também se pode dizer que quem quiser realmente ir a esses lugares, também irá acabar por lá conseguir ir.
O que incomoda bastante as autoridades é que muitas das pessoas que visitam estes locais exóticos e remotos o fazem apenas para tirar a sua foto e publicá-la no Instagram. Não é para apreciar a natureza ou para aproveitar o momento. Essas pessoas, as que apenas procuram o seu minuto de fama online, não são vistas com bons olhos porque estão a desgastar o meio ambiente por um objectivo absolutamente inválido.
E o mesmo acontece no Museu do Louvre, onde vai mais gente para tirar fotos da Mona Lisa, do que propriamente para apreciar a beleza do quadro.
Será este o caminho que queremos percorrer como viajantes? O mundo não merece algo mais da nossa parte?
Via: The New York Times